A Paz não se espera,<br> há que conquistá-la

J. M. Costa Feijão

Em 82 anos, o PCP esteve sempre na primeira linha da luta pela paz, participando activamente em todos os foruns internacionais que se reuniram para dar combate aos senhores da guerra, integrando e animando a actividade de grandes movimentos unitários em torno da causa da paz, exigindo uma política de respeito mútuo entre os povos e de entendimento pacífico entre os Estados.

Hoje, vivem-se dias duma gravidade extrema na cena política internacional. As interrogações quanto ao próximo futuro são inumeráveis, e ninguém estará em condições de prever o que irá ocorrer se ou quando os bushmen (*) abrirem a «Caixa de Pandora» no Médio Oriente.

Os comunistas há muito que denunciam o belicismo imperialista e as suas guerras como processo de resolver litígios, tendo sempre subjacente o refazer da partilha das riquezas do planeta e a subjugação dos povos. A lista de conflitos é ampla e a dimensão dos crimes cometidos infinda: os germânicos gazes asfixiantes nas trincheiras (1914); o vanguardismo norte-americano em matéria de bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki (1945), de guerra bacteriológica na Coreia (1952), de novidades químicas lançadas no Vietname (anos 60), às recentes bombas de urânio enriquecido experimentadas no Golfo e Kosovo, na última década do século XX.

Desde 1921, as páginas da imprensa do PCP são testemunho vivo duma postura política critica e pedagógica face ao fenómeno guerra, e sucessivas gerações de comunistas dedicaram a esta frente de luta muitas das suas energias, quantas vezes recompensadas com o cárcere.

Há 79 anos, surgiram os primeiros textos de análise sobre o caracter substantivo da guerra na lógica do capitalismo, e nas páginas de «O Comunista», em 27 de Julho de 1924, foi dado à estampa um artigo intitulado - O que ninguém deve esquecer - onde se lê: O fragor dos canhões, o clarão dos incêndios, o fumo dos gazes asfixiantes, a miséria de milhares de refugiados, os montões de cadáveres, as epidemias do período da guerra e após a guerra, eis a figura do capitalismo tal como as camadas populares a observaram. E prosseguindo o comentário quanto à manipulação da opinião pública destaca-se: em vez dos sonhos doirados prometidos pelos capitalistas aos operários para depois da guerra vitoriosa, a que eles chamaram a última guerra, a guerra do Direito, - esses mesmos capitalistas passaram, pelo contrário, a uma decidida ofensiva contra a classe operária. Num grande número de países o dia de 8 horas de trabalho foi suprimido; o fascismo destruiu as organizações operárias; os impostos do após guerra, as contribuições e as reparações sobrecarregaram, com todo o seu peso, os costados das camadas operárias. (...)1914 foi apenas o anel duma longa série de guerras imperialistas cujo final não será atingido senão quando o proletariado mundial suprimir as próprias causas das guerras imperialistas, isto é, o domínio da classe do capital.

Passaram-se oito décadas. A linguagem alterou-se. A «guerra do Direito» deu lugar à «intervenção humanitária» ou à «guerra preventiva», mas... Imperialismo e Paz permanecem antagónicos.

(*) Não confundir com os bosquimanos da África Austral

Nota - Gravuras talhadas em linóleo, utilizadas na imprensa clandestina do PCP



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